domingo, 26 de junho de 2016

PREDESTINAÇÃO


PREDESTINAÇÃO

Três úteis princípios hermenêuticos ou interpretativos nos ajudarão a compreender o problema da predestinação:

1º) É a regra áurea da interpretação, chamada por Orígenes de "Analogia da Fé". O texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de passagens isoladas. Não podemos basear uma doutrina numa só passagem.
2º) Para compreender bem uma passagem é precisa consultar as passagens paralelas. São aquelas que tratam do mesmo assunto.
3º) Observar bem o contexto. Ver o que vem antes e depois para saber de que autor está tratando.

Ilustremos com exemplos bíblicos estes princípios, visando elucidar o assunto que estamos apresentando:

1º) Prov. 16:4 – "O Senhor fez todas as coisas para determinados fins, e até o perverso para o dia da calamidade.”.
Ecles. 7:29 – "Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.”.
Deus de modo algum é o originador do mal, mas os que se tornam malvados por sua livre vontade, Deus os destruirá.

2º) O segundo princípio pode ser ilustrado com Rom. 9:18 que declara: "Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz.”.
Colocando ao lado as passagens paralelas de Sal.18:25 e 26 e Isa. 55:7 sabemos com quem Deus quer ser misericordioso e com quem age com dureza. Estas passagens nos afiançam que com os benignos Ele é benigno, mas destruirá os perversos e impenitentes.
Êxodo 4:21 e 7:3 afirmam que Deus endureceu o coração de Faraó. Estas passagens são citadas pelos defensores da predestinação. Temos aqui um idiomatismo hebraico, ou seja, o verbo usado não para expressar a execução de algo, mas a permissão para fazer isso. Confira Êxo. 5:22 – "Ó Senhor, por que afligiste a este povo?" (isto é, toleraste que fosse afligido).
Ademais as passagens paralelas de Êxodo 7:13, 22 e 8:32 nos mostram que foi Faraó que endureceu o seu próprio coração.

3º) O contexto das passagens de Romanos e Efésios que falam da predestinação é claro em nos mostrar que todos fomos predestinados para a salvação. Paulo nos diz que Deus através de Cristo nos predestinou para que fôssemos seus filhos por adoção.
Os gentios ficaram admirados por serem atingidos pelo evangelho. Eles perguntavam: Por que só agora lhes fora revelado este privilégio? Paulo lhes diz claramente que eles já tinham sido destinados ou predestinados para serem participantes do evangelho.
Deus tem um propósito para este mundo e para cada pessoa individualmente. Este propósito é que todos cheguem ao conhecimento da verdade e se salvem. "Deus não deseja que alguém se perca" II Ped. 3: 9.
Alguns afirmam: estava predestinado que Judas trairia a Cristo, por isso ele não era livre para escolher.
A Bíblia não diz que estava predestinado que Judas o trairia. Embora a morte de Cristo fosse pré-ordenada, Pilatos e Judas não precisariam ter sido instrumentos dessa morte, eles eram livres para aceitá-lo ou colaborarem na sua condenação,
O Espírito de Profecia declara:
"O Salvador lia o coração de Judas; sabia as profundezas de iniquidade a que, se o não livrasse a graça de Deus, havia ele de imergir... Abrisse ele o coração a Cristo, e a graça divina baniria o demônio do egoísmo, e mesmo Judas se poderia tornar um súdito do reino de Deus." – O Desejado de Todas as Nações, pág, 294.
Outra passagem muito citada pelos calvinistas para a dupla predestinação é Rom. 9:13 – "Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú." Afirmam: Antes do nascimento, um é predestinado para a Salvação e outro para a condenação. Esta é uma conclusão simplista.

Devemos atentar para estes dois pontos (para consciência argumentativa)
1º) Esta citação de Paulo foi tirada de Malaquias 1: 2-3, escrita mais ou menos 1.000 anos depois que eles viveram, portanto não é uma profecia, mas sim fato histórico.
2º) Malaquias não está falando de Esaú e Jacó como duas pessoas, mas de dois povos distintos: israelitas e edomitas. Jacó está representando o povo do concerto e Esaú os incrédulos e inimigos de Deus. O aborrecimento de Deus por Esaú – ou melhor, pelos seus descendentes – foi após um milênio de paciência.
Paulo declara que Jacó foi escolhido para uma função, para representar um papel de destaque na história do povo de Deus. Rom. 9:11-12.
Os versos 34 e 41 de Mat. 25 contradizem frontalmente a dupla predestinação de Calvino.
Verso 34 – "Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possui por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Isto sugere predestinação para a Salvação.
Verso 41 -”. Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos." Se houvesse a dupla predestinação a afirmativa de Cristo seria – preparado para vós desde a fundação do mundo. O fogo foi preparado para o diabo e seus anjos, não para o homem.
Outra declaração importante de Paulo, que precisa ser bem compreendida é a de Rom. 9:22 e 23.
O verso 22 fala dos vasos de ira preparados para a perdição, mas que Deus os suportou com muita longanimidade.
No verso 23 há o relato dos vasos da glória preparados previamente, O comentário do Púlpito em inglês chama-nos a atenção para uma palavra muito importante ao interpretar estes versos, isto é, previamente.
A Bíblia nos prova de maneira inequívoca que os vasos da ira não foram feitos por Deus para a destruição. Basta ler as passagens paralelas de Romanos 2:4 e 5 onde Paulo nos fala que Deus trabalha para a Salvação do homem, mas o próprio homem endurece o seu coração para o dia da ira.
Em Adão todos são predestinados para a perdição. I Cor. 15:22.
Em Cristo todos são predestinados para a salvação. S. João 1:12.

PREDESTINAÇÃO E ETERNIDADE. 

“Bendito o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que nele concedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1.3-6).
“Porquanto, aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.29,30).
A predestinação, segundo as Escrituras e conforme nossos símbolos de fé, fez parte do plano da criação que, ao ser executado, o foi nos termos do decreto eterno. Em decorrência disso, não se pode falar de preordenação temporal, isto é, em um “momento”, num “ponto da eternidade, em que Deus “pensou” e “regulamentou” seu pensamento em “projeto” criacional. A expressão, “desde a eternidade,” significa: “eternamente”, pois estava na mente imutável do Deus eterno. Eis o que declara a Confissão de Fé de Westminster: Desde a eternidade, Deus, pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece “(CFW, cap. III, item 1).
Somos nominados “escolhidos”, mas este termo deve ser entendido à luz do decreto, projeto ou planejamento eterno do Criador de sua imensurável, complexa e humanamente indecifrável obra da criação. O onipotente e onisciente Deus trino, quando nada existia além e fora de si mesmo, isto é, sua mente, onde tudo que existe hoje e que virá existir no futuro encontra-se tão eternamente quanto a infinita existência do supremo Criador.
Não podemos marcar um “ponto” na eternidade onde Deus teria “começado” a “pensar,” a “planejar” e a “executar” o projeto de um gigantesco e imensurável universo físico. Também não podemos, por falta de precisa informação revelada, detectar o momento exato em que Deus “inicia” a execução de sua inimaginável “planta geral” do cosmo e de seu inextricável projeto das ordens físicas, biofísica, vegetal e animal e, dentro destas, o homem, ser que transcende os limites da materialidade e da temporalidade em virtude de sua espiritualidade e consequente dimensão eterna, na qualidade e condição de imagem de Deus (Gen. 1.26,27). Como eterno e imutável é o Criador, igualmente eterno e imutável é o seu decreto da criação.
Deus não teve começo e também não “começou”, em um momento qualquer, “perdido” nos infindos tempos, o “plano” das coisas que vieram a existir por atos criadores; isto por que Deus, em decorrência de sua imutabilidade atributiva, não evolui. A idade do Eterno não pode ser cronometrada. Portanto, o decreto da criação geral não se circunscreve a um determinado “kairós” ao longo dos tempos precedentes ao surgimento do universo espiritual, do físico e do biofísico. O leitor poderá, a esta altura, questionar: -Isto é irracional, nem sequer imaginável logicamente. –Não, o Deus eterno e a eternidade1 de Deus não são irracionais, mas incogitáveis e incognoscíveis e, consequentemente, inextricáveis.
O Rei universal é absoluto e eterno em seu ser e, portanto, imutável em seus decretos e ordenanças. A criatura finita e mortal, depravada pelo pecado incluso em sua essência e natureza, por criação e por queda extremamente limitada, está contingentemente inabilitada para entender-se a si mesma, compreender a misteriosa obra da criação e apreender completa e perfeitamente a divindade por via racional. Temos que nos colocar em nosso lugar de criaturas para aceitarmos o fato de que nosso Deus é incognoscível e, por isto mesmo, racionalmente inacessível ao homem finito: Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: por que me fizeste assim (Rm 9.20)?”.

Afirmações Bíblicas sobre a Predestinação
  
 1 - A raça humana inteira está perdida no pecado e cada indivíduo está totalmente corrompido no intelecto, vontade e emoções pelo pecado. O ser humano é incapaz de responder à oferta divina de salvação porque está espiritualmente morto. Portanto, ninguém pode crer aparte da graça soberana e eficaz de Deus.

 João 6:44; 8:47
 Romanos 3:9-18; 8:7-8
 1 Coríntios 2:14
 Efésios 2:1-3
 João 3:19-20

2 - Deus pode trazer à fé quem quer que Ele deseje; a incredulidade não mantém Deus como refém nem destrona Sua soberana escolha de salvar uma pessoa. Sua graça salvadora é sempre eficaz quando Ele deseja que ela seja, todavia, ela não força alguém a vir para Cristo, mas faz com que ele venha voluntariamente.

 Salmos 115:3
 Isaías 55:11; 46:10
 Romanos 8:30
 Jó 42:2
 João 5:21; 6:37-40, 44, 55, 64- 65; 18:37
 Daniel 4:35

3 - A salvação depende somente da vontade soberana de Deus, não do homem. Deus soberanamente escolhe quem salvar, aparte de qualquer condição encontrada no homem. Isto é chamado “eleição incondicional”. A eleição é uma expressão da vontade soberana de Deus e é a causa imediata da fé. A eleição é certamente eficaz para a salvação de todos os eleitos. Aqueles que Deus escolhe certamente chegarão à fé em Cristo. A eleição abrange toda a eternidade e é um decreto imutável.

 Efésios 1:4-11 (observe especialmente os versos 5 e 11); 2:4; 10
 Atos 13:48
 João 1:13; 3:37; 8:47; 10:26; 15:16, 19; 17:2, 6, 9, 24
 Romanos 8:28-30; 9:1-24
 Romanos 9:15, 16; 11:4-8
 Joel 2:32 (compare com Romanos 10:13)
 1 Tessalonicenses 1:4
 2 Tessalonicenses 2:13-14
 2 Timóteo 1:9
 Tito 1:1
 Apocalipse 13:8; 17:8; 20:15
 1 Coríntios 1:25-31
 Tiago 2:5
 Mateus 11:27-30

4 - Deus é soberano em tudo o que faz e todas as coisas de acordo com sua vontade e prazer. Ele não tem de prestar contas ao ser humano, porque ele é o Criador e pode escolher a quem quer salvar.
 João 6: 65
 Tiago 1:18
 1 Pedro 1:23
 Atos 11:18; 16:14
 Deuteronômio 30:6
 Jeremias 32:39-40
 Ezequiel 36:26-27
 Romanos 9:20-21
  
CONCLUSÃO

 A grande dificuldade que eu vejo com o entendimento da doutrina da predestinação está no intelecto humano. Não compreendemos a relação entre a justiça e a graça divina. De acordo com a Bíblia, a salvação não se fundamenta, de maneira alguma, no rígido princípio da justiça; pelo contrário, fundamenta- se no fato de ser ela o livramento da justiça. Se Deus tivesse resolvido exercer justiça para com os filhos caídos de Adão, nenhum deles pode- ria salvar-se. A justiça não é, em sentido algum, um fator determinante na salvação de nenhum homem. Se, portanto, Deus escolhe salvar alguns e não outros, conforme o provam os acontecimentos de cada dia, Ele ainda pode ser justo, como o seria, se não houvesse escolhido a ninguém da raça pecadora para a salvação.

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